O humilde vestir, enfim, embora não fosse acintoso, favorecia o homem "bem falante" que se apresentava como jornalista da imprensa ou da televisão. A roupa que usava, diz um dos bibliotecários burlados, reforçava a imagem "do intelectual excêntrico", despojado e adverso a valores materiais. Nas onze bibliotecas onde furtou quase duas centenas de obras de grande valor (só no Seminário Maior e na Fundação Guerra Junqueiro desviou, pelo menos, 75 livros), Correia da Silva, 50 anos, dizia-se jornalista e que estava a elaborar reportagem ou documentário sobre livros antigos. À s vezes o tema do trabalho era a própria biblioteca.
Rigoroso e persuasivo, "bem falante", "muito inteligente". Só o descuido no vestir, à primeira vista, poderia espavorir a caça. Mas não. Durante três anos, pelo menos, iludiu mais de uma dezena de bibliotecários do Porto e arredores. Entrava leve, no falso papel de jornalista, saía com livros valiosos, raros, sob a velha gabardina.
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